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O surgimento da rede

Desde fins da década de 1980, as discussões em torno da produção do conhecimento geográfico passaram a sofrer influências mais constantes dos novos referenciais e perspectivas, os quais permeavam as análises críticas quanto aos cânones e paradigmas hegemonicamente referenciados nos vários ramos científicos. No processo de revisão e crítica paradigmática, temas, ideias e abordagens se diversificaram para que a Geografia brasileira pudesse superar o impasse da crise de seus referenciais e função social, crise explicitada a partir dos anos 1970, ao mesmo tempo em que ansiava por contribuir para um melhor entendimento das condições espaciais que estavam se desenrolando na sociedade brasileira e mundial.

Ao longo da última década do Século XX, vários geógrafos e geógrafas, professoras e professores de Geografia começaram a estabelecer certa identificação temática e de críticas comuns. Nos Encontros Nacionais de Prática de Ensino de Geografia, nos Encontros Nacionais de Geógrafos e nos Encontros de Ensino de Geografia, denominados “Fala, Professor!”, os contatos iam se fortalecendo. A proximidade de suas preocupações, expressas nos temas de pesquisas apresentados, assim como a busca comum por referenciais metodológicos mais amplos para dar conta de seus objetos e objetivos, levaram a contatos cada vez mais constantes. Começaram a participar ou a organizar coletivamente mesas redondas, comunicações coordenadas, grupos de trabalho ou outras formas de apresentação e debate de suas pesquisas e práticas educativas, tendo como foco estudos voltados ao diálogo com outros veículos informativos e instâncias produtoras de conhecimento, objetivando a construção de saberes atinentes à dimensão espacial das pessoas e das sociedades. As publicações nos anais desses Encontros, bem como aquelas dispersas por livros e periódicos dos campos da Geografia e da Educação, foram se fazendo mais constantes e criando uma articulação e interpenetração dos estudos e escritos de uns nos estudos e escritos dos outros.

Com o amadurecimento coletivo dessas ideias e perspectivas, foi dado um passo na direção de sistematizar esses estudos em Grupos de Pesquisas e Laboratórios de Estudos vinculados às instituições em que trabalham. Tais grupos permitiram uma verticalização das pesquisas, assim como uma ampliação horizontal das mesmas por meio de incorporação de novos pesquisadores e estudantes interessados no temário.

 

Dois aspectos se destacavam na criação de interfaces entre estes grupos. O primeiro é o vínculo das várias pesquisas em relação ao sentido mais amplo de Educação. A questão educacional tomada não exclusivamente em sua vertente escolar ou escolarizada, mas, também, a partir de sua dimensão educativa presente nas obras da cultura. Tal vínculo entre a educação e as pesquisas desenvolvidas nos grupos acima mencionados não necessariamente se deu centrado na explicitação da questão do ensino, nem por ter a instância física da escola como local de escrutínio e trabalho de campo, mas sim visou e visa não separar as preocupações relativas às novas abordagens e perspectivas científicas com a pertinência dessas reflexões, assim como seus produtos, com os vários aspectos que envolvem práticas educativas formais, notadamente a relação ensino/aprendizagem. O segundo elemento aglutinador do rol de pesquisas realizadas refere-se à questão da Imagem. Este elemento acabou por intercambiar as observações, experimentações e desafios expressos nas pesquisas realizadas pelos diferentes grupos, na direção de tentar elaborar referenciais de leitura e entendimento da participação das imagens, provenientes por sua vez de diversas linguagens, muitas vezes híbridas, na construção e problematização do pensamento espacial contemporâneo.

Diante disso, os pesquisadores e pesquisadoras, que de longa data vinham se encontrando e trocando experiências e referenciais, passaram a cogitar a pertinência de se criar um espaço específico em que essas pesquisas, ideias e intenções fossem apresentadas e melhor analisadas. Paralelo a isto, percebeu-se a necessidade de estreitar laços com pesquisadoras e pesquisadores estrangeiros que pudessem contribuir para esse coletivo, assim como propiciar novas e ricas trocas com outros centros de estudos sobre a Imagem em suas interfaces com a Geografia.

A rede internacional de pesquisas “Imagens, geografias e educação” nasce neste contexto e suas marcas inaugurais são a produção do dossiê “A educação pelas imagens e suas geografias”, publicado na Revista Pro-posições (2009), o I Colóquio Internacional “A educação pelas Imagens e suas geografias” (2009), o número temático “Imagens, Geografias e Educação”, publicado na Revista Educação Temática Digital (2010) e o projeto “Imagens, Geografias e Educação”, financiado pelo CNPq (Processo 477376/2011- 8), com início no segundo semestre de 2011.


 

O escopo da rede

No campo da Geografia, desde fins do século XX tem se ampliado o volume de pesquisas e trabalhos envolvendo as muitas linguagens nas quais o conhecimento geográfico é produzido. Tanto as imagens tradicionalmente utilizadas na Geografia – mapas, fotografias aéreas, imagens de satélite – como outras menos comuns nos trabalhos geográficos – desenhos, fotografias não panorâmicas, pinturas, cinema, televisão, imagens digitais e presentes na rede de computadores – passaram a ser objeto de estudo de profissionais desse ramo do conhecimento. A Geografia brasileira vem acompanhando essas novas abordagens que tomam as imagens como fenômeno de interesse geográfico. Tais estudos, em geral, se dobram – e muitas vezes se gestam – em contextos educativos diferenciados e diferenciadores. Perscrutar esses novos caminhos teóricos, temáticos e educacionais em que a linguagem imagética assume um papel destacado no processo de produção e reprodução do conhecimento científico foi o motivador da articulação em Rede do grupo de pesquisadores que propôs o projeto Imagens, Geografias e Educação.

A força motivadora para a efetivação da referida Rede foi a de fazer deslizar as imagens do lugar estável de participante de uma política instrumentalizadora, idealmente concebida como representação e ilustração de fenômenos e temas espaciais, para o lugar instável e aberto de múltiplas poéticas a potencializarem novas perspectivas, sensações e pensamentos. Este foi, e ainda é, o movimento pretendido na Rede Imagens, Geografias e Educação, cuja contribuição é tanto apontar a participação das imagens na construção e veiculação das políticas (do pensamento) acerca do espaço geográfico quanto abordar obras em imagens que abrem fissuras nestas políticas. Isso permite ao espaço e ao pensamento geográfico inerente a este se tornarem outros de si mesmos, dobrando sobre si poéticas que o fazem ser (pensado/pensamento) potencialmente inusitado, novo, aberto a outros possíveis pensares e suas derivas imagéticas, geográficas e educacionais.

O plano político, assim, afirma-se no processo agenciador de pensamentos e grupos de pesquisa, qual seja, que a força desses outros possíveis se articule com pensamentos, experimentações e ações capazes de provocar derivas minoritárias no pensamento e linguagens maiores com que majoritariamente se entendem e se praticam a ciência geográfica e o processo educacional.


 

A organização da rede em polos

A rede congrega pesquisadores de instituições e grupos de pesquisa de várias partes do Brasil e também de instituições estrangeiras. Os polos passaram a existir a partir do projeto “Imagens, Geografias e Educação”, financiado pelo CNPq, em 2011. A denominação dos polos por seu lugar de existência (cidade, país) é mais um hábito geográfico do que uma identidade local. A articulação se dá, de fato, entre grupos e laboratórios de pesquisa e de ensino sediados em universidades. Esta composição também é variável, tanto do conjunto de polos como dos arranjos internos aos polos, o que se dá pela própria dinâmica das instituições e seus membros. Segue a lista de todos os polos que compõem ou já compuseram a rede:

Buenos Aires (desde 2015)

Campinas (desde 2011)

Colômbia (desde 2014)

Crato (2011 a 2017)

Dourados (desde 2011, sendo que até 2014 fazia parte do polo Presidente Prudente)

Florianópolis (desde 2011)

Natal (2011 a 2015, rearticulado em 2019)

Portugal (2014 a 2018)

Presidente Prudente (2011 a 2018)

São Paulo (desde 2011)

Uberlândia (desde 2015)

Vitória (desde 2011)

Xinguara (2019 a 2021)

Coordenação

A Coordenação  geral é exercida por um membro da rede, indicado nos colóquios, para um mandato de 4 anos. Wenceslao Machado de Oliveira Júnior coordenou a rede entre 2011 e 2015 e Flaviana Gasparotti Nunes foi coordenadora entre 2015 e 2019. Atualmente a coordenação é exercida por Gisele Girardi (2019-2023).

Acordos de Cooperação

A articulação interinstitucional permite a criação de acordos de cooperação. No período de 2014 a 2018 foi celebrado convênio entre a Universidade Estadual de Campinas – Unicamp e a Universidade Federal da Grande Dourados – UFGD (Processo 19-P-9401-2013), ao qual aderiram a Universidade Estadual de Santa Catarina – Udesc, Universidade Federal do Espírito Santo – Ufes e Universidade de São Paulo – USP. Com o mesmo objeto e plano de trabalho foram firmados convênios com a Universidade do Minho-Portugal (processo 19P-04979/2014), Universidad del Centro de la Provincia de Buenos Aires-UNICEN-Argentina (processo 19P-30473/2014) e Universidad de Córdoba-UNICOR-Colômbia (processo19P-04976/2014) . O convênio entre a Universidade Estadual de Campinas – Unicamp e a Universidade Federal da Grande Dourados – UFGD foi renovado em 2019, com o mesmo objeto e novo plano de trabalho e a ele estão sendo processadas as adesões das universidades que sediam os polos.

Pesquisas comuns

As pesquisas que abarcam os polos da rede são constituídos a partir de projetos.

2011 a 2014 – Projeto “Imagens, geografias e educação”

Objetivo: Desenvolver pesquisas em cada centro regional, articuladas e integradas à pesquisa geral da rede acerca da relação entre imagens espacializantes e conceitos geográficos na construção de concepções e imaginações geográficas e indicar e experimentar novas configurações curriculares para o ensino de geografia a partir de obras em imagens.

2016  a 2020 - Projeto “Telas da escola: cinema e professores de geografia”

Objetivo: Qualificar o processo de regulamentação da Lei 13.006/2014 a partir da valorização da própria cultura docente já existente (tanto em termos de práticas educativas vigentes quanto em termos de expectativas escolares relativas às múltiplas conexões entre cinema e escola). Visa realizar uma pesquisa mais ampla (regionalmente e quantitativamente) em torno de uma base de dados comum alimentada pela aplicação de um questionário-entrevista com professores de Geografia em todos os polos da Rede de Pesquisa, bem como disponibilizar pesquisas diversificadas (qualitativamente) realizadas a partir de todos os polos da Rede de Pesquisa, resguardadas as suas diferenças. Os principais resultados da pesquisa estão publicados no dossiê "As telas da escola: cinema e professores de geografia" (ETD, 2021).


 

Outras iniciativas

Além dos colóquios, das publicações conjuntas e pesquisas em comum, esporadicamente a rede desenvolve ou se envolve em outras iniciativas, tais como a produção de pareceres sobre textos de eventos entre seus membros (atividade denominada “parecerista secreto”), a produção do material “Aprendizagem de Geografia no Ensino Médio e TDIC” (MEC/UFSC), e a participação na produção da primeira e segunda versões do componente curricular Geografia na Base Nacional Comum Curricular.


 

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